A grande parte das raças que hoje conhecemos são associadas a lendas e a contos que pretendem ilustrar de alguma forma o seu passado anónimo. E alguma controvérsia envolve, de facto, a origem deste belo cão de tiro, que se pensa remontar ao séc. XIX.
Por esta altura, o desenvolvimento do sistema ferroviário e a paixão dos novos milionários e aristocratas vitorianos pela caça desportiva, fez com que fossem adquiridas grandes propriedades no norte da Escócia. Com o aperfeiçoamento das armas de fogo, o número de aves abatidas cresceu consideravelmente. Esta situação fez emergir a necessidade de possuir um cão que, para além de farejar e localizar a presa atingida, a fosse buscar e a trouxesse à mão do caçador. O termo “retriever” designa precisamente o acto do cão procurar e trazer a caça abatida, entregando-a nas mãos do caçador.
A sua ascendência é atribuída pelos especialistas a várias estirpes, pelo que não existe uma versão única. A hipótese que reúne maior consenso sugere que o Tweed Water Spaniel, Setter Irlandês e St. John's Newfoundlands (um tipo de Terranova de uma variedade menor) estiveram envolvidos no seu aparecimento. O Bloodhound também é normalmente referido.
Segundo conta “a lenda”, estes cães começaram a ser criados pelo Lord de Tweedmout (ou Sir Dudley Marjoribanks), por volta de 1865, na Escócia. Tal foi proporcionado graças a um encontro que teria havido, em Brighton, entre este Lord e um grupo de circo russo que fez uso de oito Goldens num dos seus números. O Lord ficou tão impressionado que decidiu comprá-los. Foi na companhia destes oito amigos que começou a esboçar o seu plano de criação e selecção.
Outra versão conta-nos que este mesmo Lord e o seu filho, Lord Ilchester, encontraram-se em Brighton, por volta de 1860, com um sapateiro que possuía um jovem Retriever amarelo, provavelmente um produto dos cruzamentos que haviam sido feitos. Decidiram comprar o cão e chamaram-lhe “Nous” (em gaélico, sabedoria). No ano de 1868, “Nous” foi acasalado com “Belle”, uma fêmea Tweed Water Spaniel. Daqui nasceram três filhotes amarelos, ninhada que foi considerada a derradeira raiz do Golden Retriever. Um dos filhotes, de nome “Crocus” foi oferecido a Edward Marjoribanks (IIº Lord de Tweedmouth), enquanto os outros três filhotes da ninhada (“Cowslip”, “Primrose” e “Ada”) continuaram a sua vida na propriedade. Em 1872, volta a dar-se outro acasalamento e a ninhada nascida, foi oferecida ao sobrinho do I Lorde, o V Conde de Ilchester, que passou assim a constituir a sua linhagem própria de Retrievers, conhecida mais tarde pelo nome “Melbury”. Através das anotações particulares do I Lorde, foi possível descobrir como os acasalamentos foram sendo cuidadosamente planeados desde 1868 até a última ninhada, nascida em 1889/1890.
Em 1908, esta raça participa pela primeira vez numa exposição canina na Inglaterra, na categoria de Golden Flat-Coats. Apenas em 1913, altura na qual é fundado o Golden Retriever Club of England, é que vê ser-lhe atribuído o nome pelo qual a conhecemos hoje.
Em Portugal, a sua popularidade floresceu nos anos 50 e, desde então, é amplamente apreciado como cão de caça, mas também como animal de estimação doméstico.
Originalmente especializados para o cobro da caça, os Goldens Retrievers desempenham hoje um vasto leque de tarefas tais como guia para cegos, pastoreio ou farejador de droga.
Este simpático companheiro possui uma beleza cativante e uma doçura que encanta no primeiro instante.
Como cão de companhia, tem necessidade de se sentir parte do grupo, por isso deve ser inserido no seio familiar. Deve ser educado desde cedo a respeitar determinadas regras dentro de casa, pois tal evitará futuras dores de cabeça.
São brincalhões, obedientes, e muito afectuosos. Dão-se bem com as crianças e aceitam a amizade de outros animais de estimação que existam no lar. São muito seguros (porque pouco agressivos) e sociáveis, de forma que este não é definitivamente o cão de guarda ideal.
São altamente inteligentes (uma das dez mais inteligentes do mundo), motivo pelo qual se destacam em todo o tipo de provas e tarefas, tais como: cão guia de cegos e no auxílio nas terapias com doentes mentais e físicos.
Descrição
Os machos Golden Retriever medem na cernelha entre 56 e os 61 cm e as fêmeas entre 51 e os 56 cm. O seu peso oscila, nos machos, entre 29,5 e 33,7 Kg e, nas fêmeas, entre 25 e 29,5 Kg.
A sua pelagem é lisa ou ondulada e possui um subpêlo denso e impermeável. São permitidos quaisquer tons de dourado ou creme e alguns pêlos brancos no peito.
A cabeça e o crânio são bem cinzelados. O crânio é largo e arredondado, sem se tornar demasiado grosseiro, bem articulado com o pescoço. O focinho é recto, vigoroso, largo e profundo. O comprimento deste é igual ao do crânio. O chanfro é bem definido e o nariz é preto. Os seus olhos expressivos estão relativamente separados e são castanho escuro. As orelhas são ligeiramente pequenas e caem perto das bochechas, quase ao nível dos olhos. A boca apresenta maxilares fortes, com uma mordedura em tesoura perfeita, regular e completa.
A aparência geral é a de um animal simétrico, de movimentos ondulantes, altivo, vigoroso, proporcional e de expressão amistosa. Os membros anteriores são rectos, de boa ossatura, com ombros bem articulados, cotovelos bem ajustados, escápulas longas e as patas possuem uma projecção vertical.
Os membros posteriores apresentam um lombo, rins e membros fortes e musculosos, com pernas robustas e joelhos bem proporcionados. Os jarretes são curtos se vistos por trás, e pela frente são rectos.
O tronco é curto e o peito é profundo. As costelas estão bem arqueadas. As patas são redondas à semelhança das do gato e os dedos são bem arqueados. A cauda é grossa, longa e ligeiramente curva mas sem enrolar na ponta, portada ao nível do dorso. O trote é poderoso, com boa propulsão, passos largos e livres, trabalhando com os posteriores em planos paralelos.
Observações
A esperança média de vida deste cão oscila entre os 9 e os 15 anos de idade. É aconselhável estar atento à sua saúde, uma vez que a raça é propensa a desenvolver doenças e malformações. A displasia da anca e as doenças genéticas que afectam a visão (tais como cataratas ou atrofia progressiva da retina), infelizmente registam alguma frequência. Também é importante estar atento a alergias de pele.
A pelagem deve ser escovada regularmente e aparada nos membros posteriores, e entre as almofadas plantares.
Estes cães são relativamente exigentes em termos de exercício físico: entre uma a duas horas por dia, é o tempo necessário para que se sintam bem. Eles adaptam-se bem a viver em espaços menos amplos, mas o ideal é que tenham acesso a uma área cercada.